Ribeirinhos da Amazônia: um relato da vivência no município de Igarapé Miri-Pará

Autores

  • Eva Adriana Gonçalves de Oliveira UFRRJ
  • Nayane Soares Menezes UFRRJ

Palavras-chave:

Agricultura familiar, sustentabilidade, ribeirinhos

Resumo

Ribeirinhos da Amazônia: um relato da vivência no município de Igarapé Miri-Pará OLIVEIRA, Eva Adriana Gonçalves de1 ; PORTILHO, Edilene dos Santos2; MENEZES, Nayane Soares de3;GOMES, Bernarda Thailânia Ferreira4; BATISTA, Wander Chagas Favilla5; SAITER, Osmir6 1-Graduanda em agronomia na UFRRJ, Bolsista de extensão: evadrya@hotmail.com 2-Mestranda em Educação Agrícola na UFRRJ; edipara@bol.com.br 3-Graduanda em engenharia florestal na UFRRJ; menezes@hotmail.com 4-Graduanda em agronomia na UFRRJ; thaylania@yahoo.com.br 5-Graduando em engenharia florestal na UFRRJ; wfavilla@yahoo.com.br 6-Graduando em engenharia florestal na UFRRJ; osmirsaiter@yahoo.com.br Resumo Este trabalho é um reflexo de discussões e debates que estão sendo realizados por um grupo de estudos da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), o GEA (Grupo de estudos Amazônicos), a respeito da realidade Amazônica, mais referente a populações tradicionais ribeirinhas. Objetiva-se tecer reflexões a respeito das questões sócio-econômicas e ambientais que caracterizam a realidade agrária da comunidade ribeirinha do município de Igarapé- Miri . Este localiza-se na Mesorregião do Nordeste Paraense e na microrregião de Cametá, tem uma população de 60.558 habitantes, ocupando uma área de 2.009,70 Km². Pretende–se neste momento discutir a respeito do funcionamento da Casa Familiar Rural e como o modelo de ensino dela está contribuindo na vida das famílias dos alunos envolvidos (jovens ribeirinhos), em relação à produção por meio de adoções de técnicas agrícolas sustentáveis, dentro da realidade em que vivem, descrevendo aspectos da agricultura familiar, vivenciando o cotidiano do ribeirinho amazônico. Palavras-chaves:Agricultura familiar, sustentabilidade, ribeirinhos ABSTRACT This work is a reflex of discussions and debates accomplished by a group of studies of UFRRJ, GEA (Group of Amazonian studies), regarding the Amazonian reality, referring mainly to riparian traditional populations. It’s aimed at to construct reflections about the socioeconomic and environmental questions, that characterize the agrarian reality of riparian’s community of the municipal district of Igarapé-Miri. This is located in Nordeste Paraense's Mesorregião and in the small region of Cametá, with 60.558 inhabitants, occupying an area of 2.009,70 Km². It’s intended to discuss the operation of the Rural Family House and as the model of teaching contributes in the life of the involved students' families (riparian’s children), in relation to the production through adoptions of maintainable agricultural techniques, inside of their reality, describing aspects of the familiar agriculture, living the Amazonian riparian’s daily. Key words: Familiar agriculture, sustainability, riparians INTRODUÇÃO Por via prazerosa, o homem da Amazônia percorre pacientemente as inúmeras curvas dos rios, ultrapassando a solidão de suas várzeas pouco povoadas e plenas de incontáveis tonalidades de verdes, da linha do horizonte que parece confinar com o eterno, da grandeza que envolve o espírito numa sensação de estar diante de algo sublime... (Loureiro, 1995, p. 59). As comunidades visitadas estão localizadas às margens de pequenos rios, conhecidos por Furos (que é como se fossem ruas), são os chamados ribeirinhos da amazônia, que vivem da caça, pesca, do extrativismo de produtos florestais e do cultivo do açaí. A palavra Igarapé-Miri em tupi-guarani significa “Caminho de Canoa Pequena”. Segundo os moradores antigos o principal rio do município não permitia a passagem de grandes embarcações, o que resultou na denominação da cidade. A economia municipal é voltada para a extração/produção de Açaí, o que caracteriza o município como principal exportador deste produto no cenário mundial. A Casa Familiar Rural (CFR) é uma associação educativa de ensino mantida pelas famílias Rurais, visando uma educação personalizada e uma formação integral, desenvolvendo a partir de um trabalho de levantamento das necessidades do meio, práticas direcionadas para o desenvolvimento rural socialmente justo, econômica e ecologicamente sustentável, contribuindo com a redução do êxodo rural. METODOLOGIA A metodologia adotada foi inspirada na perspectiva participativa consistindo em: - Vivência nas residências dos alunos da CFR; - Vivência na CFR; -Participação do III Fórum dos Trabalhadores e Produtores Rurais de Igarapé Miri; - Encontros com a Administração da CFR e Comunidade; - Discussão e debates dos temas observados durante a vivência; - Avaliação do estágio e elaboração do relatório parcial juntamente com a comunidade ribeirinha. RESULTADOS E DISCUSSÃO Talvez a imagem que paira, ao refletirmos a condição do ribeirinho, seja a de que ainda trazemos nas memórias dos nossos corpos, a relação doentia de dependência entre o Brasil e o Reino de Portugal na clássica posição vítima/tirano ou como, no dizer de Paulo Freire, quando o oprimido hospeda o seu opressor ao apropriar-se da sua fala, do seu discurso e até de suas práticas; quando assumimos a posição clássica de esperar, quem sabe que alguém nos descubra de novo, e nos diga o que fazer... Pensar modelos de desenvolvimento para as populações ribeirinhas significa antes de tudo contemplá-los em todas as ações e, fundamentalmente, ouvi-los para que não sejam reduzidos a “meros objetos da ação libertadora que, assim, é realizada mais sobre e para eles do que com eles, como deve ser”, como nos aponta a perspectiva de Paulo Freire(1988, p. 54). A principal atividade econômica da região é o cultivo do Açaí, sendo esta a principal atividade geradora de renda para a maioria da população, onde na época da safra (agosto a dezembro), há um giro na movimentação financeira, pois na época da entre-safra as comunidades passam por dificuldades financeiras, pois é na época do inverno que acontecem as grandes cheias dos rios (lançantes), inviabilizando atividades como a pesca e produção agrícola sustentável. Em função disto já há uma discussão na CFR sobre as formas de manejo do açaizeiro que possam proporcionar produção do açaí de qualidade durante todo o ano,sendo que ainda não há assistência técnica qualificada que atenda à realidade local. A exploração de açaí na região é sustentável, independente dos níveis de manejo, os indicativos são de sustentabilidade para a contínua exploração nos padrões atuais de produção dos ribeirinhos. A idéia da sustentabilidade na concepção e prática dos ribeirinhos pode ser compreendida se percebermos o tempo que estes já vêm se relacionando com a natureza e a forma como desenvolvem esta relação. Uma das principais preocupações da CFR tem sido com as questões ambientais, pois até então notava-se que o lixo doméstico e de produção agrícola eram descartados nos rios, havia o corte para venda das árvores nativas e a pesca de peixe e camarão na época de desova, com rede de malhas pequenas que capturavam também peixes muito pequenos. Neste contexto percebemos que a CFR tem um papel fundamental no que diz respeito à formação dos alunos, através do acesso à informação, construção coletiva, discussão sobre a realidade em que estão inseridos, sua participação na sociedade e no meio ambiente, sugerindo alternativas que minimizem esses problemas. Dentre estas alternativas, destacam-se a confecção do "matapi ecológico", que só captura os camarões adultos, a separação das fêmeas de camarão ovadas e seus filhotes e sua devolução ao rio, a coleta seletiva do lixo, disponibilizando para isso o barco da associação para levar o lixo para a cidade; e há também a preocupação com a floresta e a conscientização pela preservação das matas nativas. CONCLUSÃO Percebeu-se que o açaí é de importância incalculável para a região, em virtude de sua utilização constante por grande parte da população (principalmente ribeirinhos) e da grande demanda para exportação. Nas condições atuais de produção e comercialização, a obtenção de dados exatos é quase que impossível, motivado pela falta de controle nas vendas, bem como a inexistência de uma produção racionalizada, uma vez que a matéria-prima consumida apoia-se pura e simplesmente no extrativismo e comercialização direta do açaí e do palmito, que é direcionada ao fornecimento de fabriquetas clandestinas, que não possuem qualquer controle de qualidade. Para garantir a manutenção do meio ambiente, é preciso criar e reunir condições para que as comunidades instaladas nas áreas florestais possam delas tirar seu sustento mantendo seu capital em recursos naturais, papel este que está sendo desenvolvido pelas Casas Familiares Rurais juntamente com as famílias envolvidas no processo. . O conjunto de ações visando à sobrevivência humana também refreia o deslocamento de contingentes rurais para os centros urbanos porque, não dispondo de infra-estrutura para absorver pessoas com pouca ou sem qualificação profissional, acabam empurrando-as para as periferias. Os ribeirinhos estão preocupados e conscientes com a saturação do mercado do açaí, por isso, com auxílio da ARCAFAR procuram uma alternativa de atividade econômica que gere renda para a época da entre safra.Entendemos que propostas de desenvolvimento em benefício dos ribeirinhos serão construídas pelos próprios ribeirinhos, considerando o contexto local, e suas possibilidades. Sem pretender correr o risco de dar receitas, sugerimos alguns caminhos, propostos pela Casa Familiar Rural, que talvez possam contemplar os interesses desta população, a saber: o aproveitamento de áreas desmatadas, alternativas de renda (criação semi-confinada de pequenos animais como galinhas e porcos) processamento de frutas para produção de polpas; produção de alimentos – hortas comunitárias, produção de artesanato,metodologia de produção e secagem de plantas medicinais, organização em associações ou coletivos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. LOUREIRO, João de Jesus Paes. Cultura Amazônica: uma poética do Imaginário. Belém/PA: CEJUP, 1995. FREIRE, Paulo e JACKES Weber (orgs.) Gestão de Recursos Naturais Renováveis e Desenvolvimento.São Paulo : Cortez, 1997. PÁDUA, José Augusto. Problemas e Perspectivas de uma Relação Sustentável com a Floresta Amazônica Brasileira. Rio de Janeiro. Mimeo, 1997.

Biografia do Autor

  • Eva Adriana Gonçalves de Oliveira, UFRRJ
    Graduanda em Agronomia Na UFRRJ, estagiária bolsista em extensão no projeto Formação de Educadores ambientais no município de Seropédica_RJ.
  • Nayane Soares Menezes, UFRRJ
    Graduanda em Engenharia Florestal da UFRRJ

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Publicado

2007-09-28

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